sábado, 11 de junho de 2011

Filme

         Felipe Abib, o nosso Jeremias


Mas acontece que um tal de Jeremias,
Traficante de renome, apareceu por lá
Ficou sabendo dos planos de Santo Cristo
E decidiu que, com João ele ia acabar”

Ter como ponto de partida para a construção da personagem uma música, realmente, pode soar um desafio bem interessante para um ator. Ainda mais quando essa música é “Faroeste Caboclo” e o personagem, “Jeremias”.
Felipe Abib, jovem ator de teatro formado pela Escola de Teatro Martins Penna e pelo curso de teatro da UniverCidade, é quem interpreta o “traficante de renome” conhecido de todos, da canção original de Renato Russo.
“Procurei entender o pensamento de um personagem vil como Jeremias, um personagem que sente prazer na violência. Foi uma tarefa difícil, mesmo porque, para complicar ainda mais, Jeremias é moleque, da minha idade ou pouco mais novo, que vive nos anos 80. Ora, eu nasci em 1981!”
Pois então, Felipe foi adolescente nos anos 90. Até curtia Legião Urbana, mas a banda que fazia mesmo a sua cabeça quando moleque era Raimundos. Essa levada delinquente do rock dos Raimundos ajudou Felipe a, de alguma maneira, intuir a onda e o pensamento da juventude de Brasília dos anos 80 – dos jovens punks que se rebelaram ouvindo Sex Pistols e The Clash, e que as grandes bandas do rock brasileiro, que até hoje reverenciamos.
“É muito louco ver, no livro “O Diário da Turma 1976-1986: A História do Rock de Brasília”, os depoimentos da turma que originou Legião Urbana, Plebe Rude, Capital Inicial… Depoimentos de jovens que vinham sempre de outros lugares, do Rio de Janeiro, de São Paulo, da Inglaterra, da África do Sul e que se conectaram com a música! Esse livro e tantos outros me trouxeram uma visão particular dos anos 80 e de Brasília – essa cidade inventada e plana, de um céu imenso e um horizonte sem fim…”
Essa mesma Brasília sediou boa parte da preparação de elenco, do “laboratório real” que Sergio Penna formulou para os atores de “Faroeste Caboclo”. E Felipe considerou essa imersão na cidade decisiva para o seu processo de construção da personagem.
“Brasília tem um vazio, uma amplitude, que… Aaaaah! Eu consigo entender como alguém pode ficar solitário aqui. Ainda mais quando a cidade toda é muito parecida, os prédios, as quadras, as ruas. Tudo muito afastado, muito amplo, largo. De alguma forma essa realidade de Brasília serviu para eu dimensionar o Jeremias, ir aos lugares que ele frequentaria, sentir esse espaço que é o território dele, onde ele é o rei. Entender de que maneira essa cidade contribui para a delinquência dele”.
Foto por: Hugo Santarem/ Pixel Imagem
“Jeremias, maconheiro sem-vergonha
Organizou a Rockonha e fez todo mundo dançar
Desvirginava mocinhas inocentes
Se dizia que era crente mas não sabia rezar”

“Faroeste Caboclo” é o segundo filme do ator, em cartaz, com Marco Nanini, no espetáculo “Pterodátilos”, de Felipe Hirsch. Antes deste filme, Felipe Abib atuou em “180º”, longa de Eduardo Vaisman, em lançamento.
“Perguntei para o [Marco] Nanini, o que você acha das palavras expressas na música – Jeremias maconheiro, sem-vergonha, filho-da-puta… – Como é que eu construo uma personagem com base em palavras assim? E ele respondeu: “vai no dicionário, entende o que significa cada uma dessas palavras e vê aí..” [risos] É que no princípio eu estava resistente em interpretar um vilão. Esse universo me era muito distante. Tive que buscar um caminho que me permitisse enxergar o lado do Jeremias. Aí, lembrei de quando, aos 15, 16 anos, comecei a sentar no fundo da sala de aula e a badernar. Fui suspenso trezentas vezes, expulso da escola, e acabei vendo meus amigos dessa turma flertarem com um caminho errado. Eu estava quase passando dos limites, quando meu pai finalmente me chamou no canto, me pôs na linha. Essa delinquência juvenil, altamente prepotente, eu conheci. Com essa minha vivência, consegui encontrar um fio que me conduzisse até o Jeremias. Essa presunção de “tenho tudo, posso tudo, eu sou o cara”, que serviu ao personagem, inclusive, me fez chegar a pensar: “o herói deste filme sou eu. Eu sou o dono desta história”.
Jeremias o dono da história de “Faroeste Caboclo”? Só mesmo na mente do seu intérprete Felipe Abib, pois na canção de Renato Russo fica claro que João era homem, coisa que Jeremias não era, e era santo, porque sabia morrer. Agora, resta esperar o lançamento do filme para conferir o embate desses dois grandes adversários. Já se vê que Jeremias vem com tudo e o duelo vai ferver!
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